segunda-feira, janeiro 25, 2010
quarta-feira, janeiro 13, 2010
Ideias que matam
Quem me conhece sabe que sou nacionalista. Nacionalista não no sentido bacoco, ignorante, folclórico, racista e violento dos neonazis e skinheads e outros que tais, mas nacionalista no sentido em que me sinto orgulhoso - sim pasme-se, orgulhoso - da minha condição de português, de cidadão deste pequeno país com uma cultura, língua e história tão próprias. Sou daqueles que apreciam a bandeira, que se arrepiam quando ouvem cantar o hino e que acham que a independência da nossa nação deve ser preservada acima de interesses de carácter político-económico.
A história da nossa resistência secular às investidas castelhanas/espanholas - mesmo podendo ser parte dessa história uma mitificação - produz na minha mente uma inevitável comparação com a estoica resistência dos gauleses imaginados por Uderzo à ocupação romana e isso é daquelas coisas a que gosto de me agarrar.
É-me por tudo isto relativamente fácil entender o espirito daqueles que, aqui ao lado, no seio do país vizinho, pugnam pela independência daquilo que consideram ser o seu país. Sejam eles bascos, catalães ou galegos, a todos entendo o desgosto de terem de ser espanhóis à força. Entendo-lhes igualmente o desconsolo da anexação, a insatisfação com estatutos de autonomia - bastante amplos é certo - que não podem saber a outra coisa que não seja a pouco.
Coisas há no entanto que já me custam mais a entender e a aceitar, como sejam o recurso à violência extrema, os assassinatos de pessoas comuns, a utilização do medo como instrumento de obtenção de hipotéticos - e nunca passam disso - objectivos políticos.
E é por isso que me custa a perceber a respeito do mais recente episódio envolvendo a passagem de operacionais da ETA pelo nosso país, que já exista uma petição na net a clamar pela libertação dos ditos e pela sua não extradição. Numa manifestação atroz de cinismo tendencioso a autodenominada Associação de Solidariedade com Euskal Herria - que desconfio deva ser constituída por dois ou três estudantes universitários imberbes com ligações ao Bloco de Esquerda e que nunca na vida deram ou ouviram um disparo de arma de fogo e que fugiriam a sete pés se ouvissem um - passa uma esponja sobre pormenores tão insignificantes como o carácter marcadamente cruel e desumano das acções da ETA ao mesmo tempo que pugna pelos direitos humanos dos coitadinhos dos etarras. E ao fazê-lo suja - de sangue, diria eu - o mais do que legítimo direito dos bascos à independência e autodeterminação. O direito à autodeterminação de um povo não pode nem deve ser associado às imagens tétricas de corpos ensanguentados ou despedaçados, aos registos de famílias enlutadas, ao medo de quem diverge.
Dito isto fica para mim a certeza de que se os bascos fossem independentes já amanhã restar-lhes-ia entre outros um problema sério para resolver: o que fazer com a ETA.
Zé da Lela