O Homem
Num país onde a maioria ou não quer saber, ou não se quer meter, ou embarca e aproveita, ou finge defender causas e empurra os sacrifícios para cima dos outros, lá emergem aqui e ali figuras que, pela sua grandeza, conseguem erguer-se acima da mediocridade reinante. Regra geral incompreendidos, ostracizados ou mal tratados, são pessoas a quem fica quase sempre a faltar um tributo à medida da sua dimensão.
Salgueiro Maia é sem dúvida uma dessas figuras.
Do que se vai sabendo deste Homem percebe-se que a correcção e limpeza da madrugada de 24 para 25 e das horas que se lhe seguiram se confundem com a sua forma de ser. Porque ser firme sem resvalar para a crueldade, recorrer à hipótese da violência sem se embriagar por esse fogo, arriscar tudo em troca de coisa nenhuma e manter-se longe do namoro das luzes da medíocre ribalta política deste pedaço de terra, não foi e continua a não ser, para todos. Na verdade é para muito poucos.
De há uns anos a esta parte quando penso em Abril penso em Salgueiro Maia. Mais do que nos supostos estrategas sentados entre quatro paredes, debitando ordens pelo rádio, mais do que nos oportunistas que quiseram fazer sua a obra de terceiros ou nos pavões que emergiram do período revolucionário, penso no Homem que nas imagens da época surge de ar decidido, de arma na mão, a gerir as situações complicadas que lhe foram aparecendo pela frente. Penso no que lhe passaria pela cabeça naqueles momentos de tensão no Terreiro do Paço e depois no Carmo. Penso no Homem simples que se manteve simples porque quis e que lamentava, pouco tempo antes de morrer, o facto de a corja que se sentou nos cadeirões do poder democrático saído de Abril ser a mesma que por certo lá estaria se Abril não tivesse acontecido. Penso na sua célebre frase em que contrapunha estados democráticos a estados ditatoriais e ao estado a que chegámos. E a que estado chegámos…
Trinta e cinco anos depois desse dia de Abril, um dia que é mais velho do que eu, não consigo deixar de sentir uma enorme gratidão para com este Homem.
Zé da Lela
1 Comments:
At terça-feira, janeiro 08, 2013 9:51:00 da tarde, Anónimo said…
Hello. And Bye.
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