Haverá prova maior de que somos todos uma cambada de racistas do que a histeria colectiva em torno da eleição de Barack Obama? É decididamente cool ser pró Barack e intelectual, artista ou opinion maker que se preze é pró Barack e a coolness da coisa resume-se, ao fim e ao cabo, ao facto de o homem ser (meio) preto. Este racismo paternalista chateia-me tanto ou mais que o outro, o que hostiliza, o que violenta. A comunidade afro-americana – o que quer que seja que isso é – exalta de alegria e participação, primeiro na campanha e depois na eleição. E porquê? Porque o homem, que é meio preto ou se preferirmos mestiço, passou de repente e porque dá jeito ao misto de orgulho racista e eterno complexo de inferioridade dos pretos da América e do mundo a ser negro.
Racistas de um lado e do outro exaltam Barack como se ele fosse um salvador, um enviado por deus à terra, um ser nascido de um melting pot improvável na estatística das oportunidades que de repente ascendeu ao patamar mais elevado a que algum americano pode aspirar.
Barack, que não é parvo e tem uns assessores que tirando o facto de fantasiarem com as mamas de Hillary Clinton quando estão com os copos, são uns tipos competentes, explorou o cliché da cor até não poder mais, cristalizando a coisa num slogan que se quis aparentado do “I have a dream” de Luther King, qualquer coisa como, “Sim nós podemos”. Podem o quê, pergunto eu? Não será este um slogan tão vazio como aquele em que Bush pedia qualquer coisa como “support our troops”?
Algo vai mal quando se apoia e desaprova uma mesma pessoa pelo mesmo motivo. E com Barack é isso que acontece: ama-se porque é preto, odeia-se porque é preto. E, estranhamente, Barack não é nem uma coisa nem outra.
O tipo tem ideias? Parece que sim. São mais simpáticas que as ideias de George W.? Não é difícil. O gajo vai mudar o mundo? Duvido. Vai ser um bom presidente? A ver vamos. Para quê tanta histeria? Não sei.
Cá para mim quando a malta começar a ver em Barack apenas aquilo que é, um homem, que precisamente por isso haverá sempre de ficar aquém das gigantescas expectativas messiânicas que por causa do tom da pele lhe puseram em cima, aí sim ter-se-á dado um passo de gigante a caminho da igualdade.
Zé da Lela