Um deputado e estrela em ascensão de um grande partido político é suspeito de ser um pedófilo abusador de miúdos. Um juiz matulão, ambicioso e aspirante a bodybuilder decide ir buscá-lo ao Parlamento. O deputado abdica da imunidade parlamentar, é ouvido pelo dito juiz e é mandado para a choça em preventiva durante uns meses.
O tempo passa, recurso para aqui, recurso para ali, o deputado é libertado, sai do processo por não haverem provas que consubstanciem a sua permanência. Os supostos abusados insistem, dizem que o deputado lá estava e participou nisto e naquilo. Os juízes mandam calar os queixosos. O agora ex-deputado processa os supostos abusados por difamação. Os tribunais não lhe dão razão: os miúdos aparentemente não o difamaram.
O ex-deputado processa o Estado por achar que a sua prisão preventiva não se justificava. Pede uma indemnização de 600000 euros. Cinco anos depois o tribunal dá-lhe razão, considera que o juiz bodybuilder errou grosseiramente quando o mandou para a prisão preventivamente. O Estado tem de lhe pagar 120000 euros, bastante menos do que havia pedido mas ainda assim muito mais do que aquilo que o Estado alguma vez terá sido condenado a pagar alguém.
Cenários:
1. O ex-deputado é inocente, o juiz bodybuilder um egocêntrico, narcisista incompetente e por isso os contribuintes têm de desembolsar 120000 euros;
2. O ex-deputado é culpado, mas está muito bem protegido pela sua pertença à classe política, o juiz bodybuilder é competente mas meteu-se com o tipo errado e por isso os contribuintes têm de desembolsar 120000 euros;
3. O ex-deputado é culpado mas está muito bem protegido pela sua pertença à classe política, o juiz bodybuilder um egocêntrico, narcisista incompetente e por isso os contribuintes têm de desembolsar 120000 euros;
Variáveis – V1: a inocência do ex-deputado; V2: a competência do juiz;
Constantes – C1: a dúvida sobre os hábitos sexuais do ex-deputado; C2: a mancha que paira sobre o bom nome do ex-deputado; C3: a vergonhosa impunidade associada à profissão de juiz;
Verdade absoluta: em qualquer caso quem se fode é sempre o contribuinte.
Zé da Lela